segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Primeira semana - Tercerizando a educação dos filhos

Borboletas na barriga
Semana passada deu um frio na barriga quando o porteiro ligou avisando que o transporte escolar estava esperando la embaixo, eles, meus filhos, deveriam voltar para escola naquele dia, porem me escutei falando calmamente "hoje eles não vão", e ao mesmo tempo caindo a ficha de que eles não vão hoje nem amanha... alias não vão mais... elas vão aprender em casa. Por algum motivo não avisaram o pessoal do transporte escolar e eles continuaram na rotina de buscar as crianças.

Esta foi a primeira sensação depois de ter tomado a decisão dos meus filhos não mais frequentar a escola. Depois dela vieram outras muito mais interessantes e muito mais empoderadoras.

A primeira foi coisa que senti foi o peso da responsabilidade da educação dos meus filhos e também um pouco de ansiedade sobre o caminho que deveríamos seguir, já que o que estava em jogo era nada mais do que o futuro dos meus filhos.

Foi quando caiu a ficha... eu tinha "terceirizado" esse papel e essa responsabilidade para a escola!!!

Eu, eu que tinha me desescolarizado com 13 porque não concordava com ficar decorando as coisas, porque queria entende-las, tinha passado totalmente essa responsabilidade para a escola, que vergonha de mim mesmo.

Como eu poderia ter me "despreocupado" dessa função e assim do meu papel fundamental na educação dos meus filhos?

Porem ai estava eu voltando a reclamar um direito e um dever que todo pai deveria ter, o direito e o dever de educar os seus filhos.

Algumas semanas antes falando com uma diretora de uma escola internacional, acabamos tocando no assunto de eu e minha mulher ter tomado essa decisão e uma das coisas que ela me comentou era que o papel dos pais tinha mudado muito e que eles, os pais, tinham "delargado" (um pouco diferente do que delegado) a educação para as escolas, e que não se preocupavam mais em dar educação em casa.

Ficou claro para mim, pelo comentário dela, que a maior parte dos pais acaba acomodando e "terceiriza" mesmo a educação dos filhos, e com ela a responsabilidade.

Eu sou um consultor em novos modelos de gestão para negócios baseados em conhecimento, porque os modelos de gestão da era industrial acabam criando tantos problemas que precisamos de novos, e por este motivo acabei cunhando algumas metáforas e contos para ajudar a entender melhor alguns problemas crônicos que as empresas e as pessoas dentro de organizações tem.

Uma delas tem a ver com uma disfunção nas empresas quando parece que tem que empurrar o pessoal, quando eles não saem do lugar e tem que "alguém" (o gestor normalmente) tem que continuamente colocar energia para "empurrar" o seu time. E a queixa dos gestores é "eles" não são proativos, não vestem a camisa, não se importam, em fim não são "responsáveis". Nesses casos eu pergunto para o gestor "Quem é responsável por entregar este projeto?" eles sempre respondem "Eu" e ai eu rebato "Se você é responsável, quem não é responsável?" E ai começa a cair a ficha... eles respondem baixinho "eles"...

Eu chamo isso de "Irresponsabilidade Auto-infligida" quando quem deveria levar as equipes a serem responsáveis, leva eles exatamente ao contrario, puxando para si a responsabilidade...

Voltando a educação, parece que as escolas causam o mesmo tipo de "Irresponsabilidade auto-infligida" no resto da sociedade, deixando os pais "tranquilos" e "despreocupados" com a educação dos seus filhos, dando uma falsa sensação de segurança e garantia sobre o futuro das crianças.

Hoje li um artigo bacana chamado "Crie um lar aprendiz" e intuitivamente foi isso mesmo que a gente fez nesta semana, vou contar em outro post o que fizemos que acho que foi bem legal.

Vou tentar fazer um post por semana para ver como as coisas vão evoluindo por aqui.

5 comentários:

  1. E quanto a vivência social deles? Não acha isso importante?
    Aliás, qual foi a reação dos seus filhos quando perguntou se queriam deixar a escola?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ótimas duvidas, eu também fiquei preocupado com esses aspectos, já que queremos que eles sejam socialmente integrados e atuantes, crianças normais. Elas já são super sociáveis.

      Para que as crianças possam interagir com outras crianças a gente esta atuando em vários níveis, estamos colocando eles para aprender musica, vários instrumentos, com outras crianças, vários esportes, e imaginamos fazer algo como um hacker space para poder fazer experimentos, e socializar com outras crianças.

      Alguns estudos parecem mostrar que o ambiente escolar não é tão propicio para a socialização, existem algumas coisas bem artificiais no ambiente escolar que em nenhum outro local do mundo real existem: por exemplo você esta rodeado de pessoas com tua mesma idade, em algumas escolas só do mesmo sexo, em grupos muito grandes dentro de uma sala de aula onde somente uma pessoa tem autoridade sobre todas as outras e onde somente ela define o que é certo e errado e a divergência de opiniões não é valorizado, somente existe uma resposta certa, no mundo real a coisa é bem diferente.

      Respondendo a tua ultima pergunta, eles se preocuparam um pouco com a opinião dos colegas e a pressão social de não se desviar do caminho "certo", como se houvesse, porem eles confiam nos pais.

      Tem um artigo que talvez agregue sobre este tema de socialização:

      http://www.aned.org.br/index.php?id=socializacao

      Abraços,
      Juan.

      Excluir
  2. Juan, fico feliz em encontrar outra família unschooler. Liberdade é tudo, não é? Muito lúcido seu texto, quero acompanhar mas não achei onde "seguir" o blog. É possível?
    Infelizmente nossa sociedade (mídias, governos, pseudo-poderes) camufla a realidade da escola, cria idéias insanas sobre a vida fora das instituições, como essa da socialização por exemplo, e esconde os diversos tipos de aprendizagem, e nossas crianças sofrem e perpetuam esse sistema ingrato. Espero poder mudar algo para melhor, a começar por nós. Obrigada!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cassia, acabei de colocar o botão para seguir o blog, obrigado por observar.

      Pois é... como deixei de jogar o jogo de passar de ano ate terminar a faculdade como é "esperado" e assim tive que inventar um outro jogo que era tentar fazer coisas que eu queria e descobrir aquele conhecimento que me faltava para realiza-lo, hoje eu chamo essa abordagem de teoria puxada pela pratica.

      O engraçado que justamente esse processo foi a base para eu montar uma empresa de consultoria com o proposito de ajudar equipes a adotar um modelo de gestão mais adequado para criação de produtos baseados em conhecimento, que também ia contra o paradigma do status quo... mais é muito mais eficaz e eficiente, mais como tudo que é fora do status quo gera uma resposta visceral de repulsa.

      Obrigado por ler.

      Excluir
  3. Adorei o texto, as questões que suscita, o modo como contrapõe a falência da educação que praticamos, que tem a ver com a estrutura capitalista que vivemos.Muito corajoso da sua parte tudo isso! Coragem = agir com o coração. É necessário vencer muitos medos pra tomar uma decisão dessas... Vou acompanhar essa história! Namastê. Anasha (tbém tenho um blog: www.umbigodeeros.blogspot.com)

    ResponderExcluir